segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Por que?


Por que?

Por que somos céticos de tudo
E surdos aos sons dos aplausos?
Desconfiados da felicidade,
Do próprio merecimento,
Do amor recebido
Do sucesso eminente do carinho confesso
E da mão estendida
Clamando por parceria?

Vamos ofuscando a felicidade e
Escurecendo os pontos de luz
Morrendo a cada passo
Com as pupilas retraídas
Na escuridão de nossas mentes...
Varridos pelos suspiros do ego,
Que nos culpa e nos condena.

Somos criativos
Reinventando motivos
Para chorar e nos apiedar
De nossa própria dor
Em batalhas insanas e perigosas
Crias de nossos pensamentos.

Por que desacreditar
Do Bem do qual saímos?
Esse Bem nos manterá sempre
Caso o alimentemos
E expulsemos de nós
O ser obstinado
Que se vangloria da própria dor.

Perdemos tempo valioso
Esquecidos e nossa parte iluminada
E chorosos do abandono da sorte
Espantamos a felicidade
Na vã ilusão de que estamos a buscá-la.

Por que?

Ione Scherer (Jullye)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Os diferentes


Diferentes

À minha janela
Janela para a rua antiga
E para o pé de salso chorão...
Assisto ao desfile dos diferentes:

O preto, o branco o pardo
O intelectual, o mago, o pedreiro,
O feliz, o triste, o desgraçado...
Noto-os estranhamente, distraídos...
Atentos a não sei o que.

Ali juntas no mesmo jardim
A flor vermelha duradoura,
A amarela frágil e breve...
Quiçá, dialogando.
Outras folhas alheias, se arrastando
Pertinho dos brotos verde-vivos
Do pé de plátano.

Galhos floridos de um ipê
Se prestam a morada dos pássaro
e passarela para o gato que sobe em prisco,
Em fuga dos
Latidos do cão todo armado.

Fecho os olhos desiguais
E na mentalização;
Meus dedos
Tão diferentes... as duas mãos...os seios...
as duas metades do rosto...

Debruçada aguardo as estrelas desiguais
E a lua com suas bruxas inconstantes
Se modificando a cada noite.
No meu silêncio meditativo

Cabem; a música estridente da guitarra,
O concerto melodioso
E o coral melancólico da igreja.
Cabe o vento assoviando malicioso
A cidade inteira que fala apressada
Com seus sons tão diferentes.

Fecho a janela
Deliciosamente serena
Com a paz
Dos que assistiram
Ao desfile dos diferentes.

Ione Scherer (Jullye)